Descrição
“Chegamos ao segundo decênio do século XXI e o drama da catadora da favela do Canindé, hoje, felizmente, reconhecida como grande escritora brasileira, ainda persiste em nossa sociedade. Há incontáveis homens e mulheres que vasculham o lixo à procura de alimento. A população de rua, desassistida e invisibilizada, deambula pelos grandes Centros urbanos. O espanto do eu-lírico no poema “O bicho”, de Manuel Bandeira parece substituído por uma estranha indiferença, nessa sociedade que insiste em naturalizar a miséria e o desamparo.
Neste contexto, Glória Vianna resiste à naturalização da desigualdade e nos apresenta Luzia, uma jovem catadora que sofre toda a sorte de infortúnios nas ruas do Rio de Janeiro: violência física, mental e social. (…) A autora se coloca no lugar da escuta, ouve a história de Luzia, e expõe, dentre inúmeras questões, a rede mútua de apoio que se tece entre as mulheres que resistem bravamente à realidade abrupta das ruas. Descolonizar é preciso, é o que nos mostra a narrativa de Glória Vianna, com suas personagens densas e complexas, construídas com clareza e concisão, à maneira da prosa realista, mas grassando de delicadeza, força e resistência amorosa.”